quinta-feira, 15 de julho de 2010

Só pra Te ver...

Adelina Maria Ribeiro Matos
Na pequena cidade de São José de Monte Verde, vivia um homem muito rico chamado Joaquim. Fazendeiro possuía muitas terras, centenas de bois e uma bela casa na cidade. Mas tinha um grave defeito: era bastante mesquinho e não gostava de nada que se referisse à religião. Na casa de Joaquim vivia uma criança muito piedosa e engraçadinha, chamada Zita. Era filha de Sara, a fiel governanta, cuja mãe, por sua vez, já tinha servido à família na fazenda. A menina, muito esperta e diligente, sabia de cor todo o serviço que deveria fazer para ajudar à mãe. Sara era muito religiosa e ensinara Zita a rezar desde pequenina. Nas horas de folga, levava-a a matriz de Nossa Senhora do Perdão e ali passavam horas rezando, venerando as imagens e admirando as pinturas das paredes e do teto da bela igrejinha colonial.
Mas o que gostavam mesmo era de estar com o Santíssimo Sacramento quando estava exposto. Sara ensinara à filha que naquela delicada Hóstia estava Jesus inteirinho, com Seu corpo, sangue alma e divindade. À menina custava-lhe imaginar como fazia Ele para entrar num ostensório tão pequeno… E sua mãe lhe explicava que era um grandíssimo milagre, porque Jesus subiu ao Céu, mas não quis deixar a humanidade abandonada, permanecendo entre os homens no Santíssimo Sacramento.
Zita foi crescendo e logo pediu para receber a Primeira Comunhão, porque não só desejava visitar Jesus, mas queria que Ele também frequentasse seu pequeno coração. Todos os domingos iam à Missa com sua mãe e recebia a Jesus em sua alma. E durante a semana, sempre que podia, dava uma “escapadinha” só para visitar o Senhor, exposto na matriz. O tempo passava e a menina crescia na devoção ao Santíssimo Sacramento a cada dia.




Porém, o senhor Joaquim, profundamente antipatizado com a devoção da menina, começou a impedir que ela fosse à igreja. Muitas vezes mandava que ela fosse à venda comprar alguma coisa, mas marcava os minutos, para não lhe dar tempo de parar para rezar. Zita, então, só tinha tempo de entrar na matriz e fazer uma rápida genuflexão, dizendo:
- Senhor, vim aqui só para Te ver um pouquinho!
E voltava correndo! O patrão a esperava com o relógio na mão.
Nem aos domingos podia mais sair, pois o malvado decidiu mudar o dia de folga de sua mãe. A menina sofria com saudades de seu Jesus Sacramentado. Mas sempre que podia, corria à igreja e fazia a breve genuflexão, repetindo:
- Senhor, vim aqui só para Te ver… um pouquinho!
Muitas e muitas vezes se repetiu essa encantadora cena.
Chegou o mês de junho. Toda a paróquia se engalanou para celebrar a festa de Corpus Christi. As ruas foram decoradas com tapetes de flores e serragem colorida. Bandeiras e velas adornavam todo o trajeto por onde passaria a procissão. O belo pálio foi preparado para proteger o Senhor Sacramentado que percorreria a cidade, nas mãos do senhor vigário.
Zita ardia de desejo de participar, mas o senhor Joaquim lhe negara rotundamente! Ela suplicava no fundo de seu inocente coração que ao menos pudesse ver o Senhor de relance. Terminada a Missa, saiu a procissão, entre os toques dos sinos e os hinos em louvor a Jesus Hóstia. A banda tocava eximi amente. Haviam ensaiado novas melodias especialmente para esta festa.
A menina escutava os acordes e rezava em segredo. De repente, percebeu que a música se aproximava mais e mais. A procissão ia passar em frente da casa! Tomada de fervor, perdeu todo o medo do seu patrão e abriu a janela da sala principal, justo no momento em que o pálio passava.
Repentinamente, o vigário sentiu que seus pés se colaram no chão e não podiam mover-se. A menina, da janela, tinha os olhos fitos em seu saudoso Jesus. O ostensório começou a girar nas mãos do sacerdote, sem que este fizesse algum movimento, ficando de frente para Zita. E de dentro da Sagrada Hóstia se fez ouvir uma celestial voz que dizia: - Zita, parei aqui só para te ver um pouquinho!
O senhor Joaquim, que havia escutado o ruído, acabava de entrar na sala, disposto a zangar-se com a menina e a fechar a janela bruscamente. Presenciando tal prodígio, lembrou-se de quando ainda rezava, ia à Missa e também da sua Primeira Comunhão. Sentiu em sua alma as alegrias daquele dia e as lágrimas começaram a correr de sua face, pois nunca mais fora visitar o Senhor, nem para vê-lo só um pouquinho…
Terminada a milagrosa cena, o ostensório tomou sua posição anterior, os pés do vigário se soltaram do solo e a procissão continuou normalmente. Os presentes mal podiam acreditar no que acabavam de ver…
Ao notar que seu patrão estava de joelhos e chorando, a menina tomou-o pela mão e saiu com ele para acompanhar a procissão. Zita cantava os hinos eucarísticos com gosto. E qual não foi sua surpresa, quando começou a escutar uma voz forte e viril acompanhando as estrofes. Isso sim, que era um verdadeiro milagre!
Chegando à igreja, depois de toda a cerimônia, o senhor Joaquim pediu ao vigário para confessar-se e assim se reconciliou com Aquele que por tanto tempo abandonara. Aos pés de Nossa Senhora do Perdão, rezou devotamente, pedindo à Mãe de Deus que o protegesse a o ajudasse a mudar de vida.
Agora, sempre que tem um tempinho, passa ele pela matriz e reza. Mas antes de tudo, diz ao Senhor:
- Senhor, vim aqui só para Te ver! Ajuda-me a nunca mais Te abandonar!
Desenhos: Edith Petitclerc
(Revista Arautos do Evangelho, Out/2009, n. 94, p. 46-47)

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