Adelina Maria Ribeiro Matos
Na pequena cidade de São José de Monte Verde, vivia um homem muito rico chamado Joaquim. Fazendeiro possuía muitas terras, centenas de bois e uma bela casa na cidade. Mas tinha um grave defeito: era bastante mesquinho e não gostava de nada que se referisse à religião. Na casa de Joaquim vivia uma criança muito piedosa e engraçadinha, chamada Zita. Era filha de Sara, a fiel governanta, cuja mãe, por sua vez, já tinha servido à família na fazenda. A menina, muito esperta e diligente, sabia de cor todo o serviço que deveria fazer para ajudar à mãe. Sara era muito religiosa e ensinara Zita a rezar desde pequenina. Nas horas de folga, levava-a a matriz de Nossa Senhora do Perdão e ali passavam horas rezando, venerando as imagens e admirando as pinturas das paredes e do teto da bela igrejinha colonial.
Mas o que gostavam mesmo era de estar com o Santíssimo Sacramento quando estava exposto. Sara ensinara à filha que naquela delicada Hóstia estava Jesus inteirinho, com Seu corpo, sangue alma e divindade. À menina custava-lhe imaginar como fazia Ele para entrar num ostensório tão pequeno… E sua mãe lhe explicava que era um grandíssimo milagre, porque Jesus subiu ao Céu, mas não quis deixar a humanidade abandonada, permanecendo entre os homens no Santíssimo Sacramento.
Zita foi crescendo e logo pediu para receber a Primeira Comunhão, porque não só desejava visitar Jesus, mas queria que Ele também frequentasse seu pequeno coração. Todos os domingos iam à Missa com sua mãe e recebia a Jesus em sua alma. E durante a semana, sempre que podia, dava uma “escapadinha” só para visitar o Senhor, exposto na matriz. O tempo passava e a menina crescia na devoção ao Santíssimo Sacramento a cada dia.
Porém, o senhor Joaquim, profundamente antipatizado com a devoção da menina, começou a impedir que ela fosse à igreja. Muitas vezes mandava que ela fosse à venda comprar alguma coisa, mas marcava os minutos, para não lhe dar tempo de parar para rezar. Zita, então, só tinha tempo de entrar na matriz e fazer uma rápida genuflexão, dizendo:
- Senhor, vim aqui só para Te ver um pouquinho!
E voltava correndo! O patrão a esperava com o relógio na mão.
Nem aos domingos podia mais sair, pois o malvado decidiu mudar o dia de folga de sua mãe. A menina sofria com saudades de seu Jesus Sacramentado. Mas sempre que podia, corria à igreja e fazia a breve genuflexão, repetindo:
- Senhor, vim aqui só para Te ver… um pouquinho!
Muitas e muitas vezes se repetiu essa encantadora cena.
Chegou o mês de junho. Toda a paróquia se engalanou para celebrar a festa de Corpus Christi. As ruas foram decoradas com tapetes de flores e serragem colorida. Bandeiras e velas adornavam todo o trajeto por onde passaria a procissão. O belo pálio foi preparado para proteger o Senhor Sacramentado que percorreria a cidade, nas mãos do senhor vigário.
Zita ardia de desejo de participar, mas o senhor Joaquim lhe negara rotundamente! Ela suplicava no fundo de seu inocente coração que ao menos pudesse ver o Senhor de relance. Terminada a Missa, saiu a procissão, entre os toques dos sinos e os hinos em louvor a Jesus Hóstia. A banda tocava eximi amente. Haviam ensaiado novas melodias especialmente para esta festa.
A menina escutava os acordes e rezava em segredo. De repente, percebeu que a música se aproximava mais e mais. A procissão ia passar em frente da casa! Tomada de fervor, perdeu todo o medo do seu patrão e abriu a janela da sala principal, justo no momento em que o pálio passava.
Repentinamente, o vigário sentiu que seus pés se colaram no chão e não podiam mover-se. A menina, da janela, tinha os olhos fitos em seu saudoso Jesus. O ostensório começou a girar nas mãos do sacerdote, sem que este fizesse algum movimento, ficando de frente para Zita. E de dentro da Sagrada Hóstia se fez ouvir uma celestial voz que dizia: - Zita, parei aqui só para te ver um pouquinho!
O senhor Joaquim, que havia escutado o ruído, acabava de entrar na sala, disposto a zangar-se com a menina e a fechar a janela bruscamente. Presenciando tal prodígio, lembrou-se de quando ainda rezava, ia à Missa e também da sua Primeira Comunhão. Sentiu em sua alma as alegrias daquele dia e as lágrimas começaram a correr de sua face, pois nunca mais fora visitar o Senhor, nem para vê-lo só um pouquinho…
Terminada a milagrosa cena, o ostensório tomou sua posição anterior, os pés do vigário se soltaram do solo e a procissão continuou normalmente. Os presentes mal podiam acreditar no que acabavam de ver…
Ao notar que seu patrão estava de joelhos e chorando, a menina tomou-o pela mão e saiu com ele para acompanhar a procissão. Zita cantava os hinos eucarísticos com gosto. E qual não foi sua surpresa, quando começou a escutar uma voz forte e viril acompanhando as estrofes. Isso sim, que era um verdadeiro milagre!
Chegando à igreja, depois de toda a cerimônia, o senhor Joaquim pediu ao vigário para confessar-se e assim se reconciliou com Aquele que por tanto tempo abandonara. Aos pés de Nossa Senhora do Perdão, rezou devotamente, pedindo à Mãe de Deus que o protegesse a o ajudasse a mudar de vida.
Agora, sempre que tem um tempinho, passa ele pela matriz e reza. Mas antes de tudo, diz ao Senhor:
- Senhor, vim aqui só para Te ver! Ajuda-me a nunca mais Te abandonar!
Desenhos: Edith Petitclerc
(Revista Arautos do Evangelho, Out/2009, n. 94, p. 46-47)
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